sexta-feira, 16 de julho de 2010

FRASE DA SEMANA

Frase do Senador Cristovão Buarque:


"NO FUTEBOL, O BRASIL FICOU ENTRE OS 8 MELHORES DO MUNDO E TODOS ESTÃO TRISTES.
NA EDUCAÇÃO É O 85º E NINGUÉM RECLAMA..."

O insustentável preconceito do ser!

Por Rosana Jatobá


Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a
convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como
repórter. Solícitos, os col egas da redação paulistana se
empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e
cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos
conhecimentos.
Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de
educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter.
Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô
falando de um tipo de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os
prédios da capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam
alto e fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu
a janela do carro e atirou uma caixa de sa patos.
-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos.
Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar....
De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São
palavras ou expressões que , de tão arraigadas, passam
despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito
velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como
tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.
Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba",
que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça
chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no
Nordeste.
Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e
palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo
indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do
sujeito explicasse uma atitude censurável.
Numa das conversas que tive com a jornalis ta Miriam Leitão, ela
comentava:
-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso
é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos,
cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que
estão cantando. A letra diz o seguinte:
"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".
"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar,
como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem.
A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana,
é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constragimento.
É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da
senzala.
O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um
artigo no qual ressalta:
"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos us am
para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram
a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que
tinha um versinho assim:
'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer,
agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer
diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o
slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente
correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra
que humilhe, discrimine ou zombe de alguém".
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se
referir aos negros e mulatos americanos de hoje?
A origem social é outro fator que gera comentários tidos como
"inofensivos" , mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua
mobilidade social, é a mesma que o picha o próprio Presi dente de
torneiro mecânico, semi-analfabeto. Com relação aos empregados
domésticos, já cheguei a ouvir:
- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !
E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes
humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona,
frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de
apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?
Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o
trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!
Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou
falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo
feminino:
-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e
gastar pouco:
- Só podia ser judeu!
A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se
aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos
extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta,
almôndega, baleia ...
Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal
não é o que entra, mas o que sai da boca do homem".
Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às
palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São
partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano.
A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o
Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser
Sustentável.
O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses
homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os
cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade.
Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um
alcóolatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:
-Só podia ser mendigo!
No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata
111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
-Só podia ser bandido!
Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade
aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a
consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora
o que temos de melhor para dizer uns aos outros.
PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos.
..
Rosana Jatobá
/Rosana Jatobá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela
Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias
ambientais da Universidade de São Paulo. Também apresenta a
Previsão do Tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo. /
ESSE TEXTO é PARTE DA SéRIE DE CRôNICAS SOBRE SUSTENTABILIDADE
PUBLICADA NA CBN

Felicidade Realista

A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo.
Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum.
Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo.
Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno.
Olhe para o relógio: hora de acordar É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade.
Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.
Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.
Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.

Mario Quintana

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O essencial é saber ver - Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!), Isso exige um estudo profundo, Uma apredizagem de desaprender... Procuro despir-me do que apredi, Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, E raspar atinta com que me pintaram os sentidos, Desencaixotar as minhas emoçoes verdadeiras, Desembrulhar-me e ser eu..."

Alberto Caeiro